sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Afinal, os Neandertais foram os primeiros artistas na Terra

Historia

Um estudo publicado na revista Science revela que foram os neandertais que pintaram as primeiras figuras rupestres. E fizeram-no intencionalmente, o que significa que já pensavam de forma simbólica.

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As primeiras pinturas rupestres atribuídas, até há pouco tempo, ao Homo sapiensforam afinal feitas pelo homem de Neandertal, há mais de 65 mil anos, o que faz deles os primeiros artistas na Terra.

Um estudo conduzido por uma equipa de 14 investigadores, de cinco países, incluindo o português João Zilhão, publicado na revista Science, conduziu a esta recente informação. A descoberta revela-se de grande importância: as pinturas analisadas foram feitas intencionalmente, o que mostra que os neandertais tinham já a capacidade de pensar simbolicamente — ao contrário daquilo que se tem dito.
O surgimento da cultura material simbólica representa um limiar fundamental na evolução da humanidade”, disse Dirk Hoffmann, investigador no Instituto Max Planck para a Evolução Antropológica e co-autor do estudo, acrescentando que “É um dos principais pilares do que nos torna humanos”.
Os resultados foram obtidos através de novas tecnologias, que lhes permitiram saber com maior precisão a idade das pinturas existentes em três grutas espanholas: La Pasiega, Ardales e Maltravieso. A equipa descobriu que em grutas separadas por milhares de quilómetros, esta espécie pintou e desenhou figuras, produzindo verdadeiras obras de arte dezenas de milhares de anos antes de o ser humano ter chegado a estes locais — o que se torna evidência clara de que são da autoria dos neandertais.

A técnica utilizada: urânio-tório

As técnicas utilizadas até agora não possibilitavam datar com rigor o momento em que as pinturas foram desenhadas. Num comunicado sobre o trabalho, explica-se que nos anos 1990 a datação de radiocarbono com espectrometria já permitiu atribuir uma idade à matéria orgânica, mas com limitações, uma vez que “este método só pode ser aplicado a pinturas negras feitas com carvão”.
Esta equipa utilizou agora o método urânio-tório: na prática, os cientistas recolheram amostras de pequenas crostas de carbonato de cálcio que se acumulam por cima e por baixo das pinturas e mediram a desintegração radioativa do urânio-234 em tório-230, técnica que fornece, assim, uma idade máxima e uma mínima para as pinturas. No vídeo abaixo os cientistas explicam como dataram as pinturas e qual a sua importância.

Mas o que pintaram, afinal, os Neandertais?

A arte rupestre diz respeito às representações artísticas pré-históricas realizadas em grutas, cavernas e até mesmo em superfícies rochosas ao ar livre, e pode manifestar-se na forma de pinturas — o caso das grutas espanholas — ou de gravuras (figuras cravadas nas rochas).
Ali, os neandertais pintaram animais (a vermelho e preto), figuras geométricas (a vermelho), aplicaram pigmentos sobre estruturas de estalagmites e estalactites típicas do interior das grutas e, mais importante, desenharam mãos através da técnica de stencil — ou seja, colocaram a mão e passaram tinta por cima, de maneira a ficar registado o contorno da mão — o que indica que o processo foi realmente feito de forma intencional.
Na gruta La Pasiega, perto de Bilbao, uma pintura em forma de escada, a vermelho, data de mais de 64.800 anos. Na imagem podem ver-se figuras de animais “muito provavelmente bastante mais recentes”.
Em Maltravieso, no oeste de Espanha, pode encontrar-se uma mão em stencil, e na caverna de Ardales, perto de Málaga, há manchas de pigmentos encarnados em cortinas estalagmíticas. No caso de Ardales,João Zilhão, investigador do Departamento de História e Arqueologia da Universidade de Barcelona e do Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa, explica que “o objetivo era realçar uma formação geológica natural à qual se atribuiria um valor ritual/simbólico/mitológico”.
Um segundo estudo, publicado também por Hoffmann e pela sua equipa, determinou a idade de um depósito arqueológico localizado em Cueva de los Aviones, uma gruta no mar, em 115 mil anos, como escreve o jornal The Guardian. 
Para mim, a descoberta encerra o debate sobre os neandertais”, disse João Zilhão, investigador na Universidade de Barcelona. Citado pelo The Gaurdian, acrescenta: “Eles são parte da nossa família, eles são antepassados, não eram cognitivamente distintos ou menos dotados em termos de sabedoria. Eles são apenas uma variante da espécie humana que já não existe”.
Com cerca de 65 mil anos, as pinturas são as mais antigas conhecidas em grutas em todo o mundo. “Estes resultados sugerem que as pinturas rupestres já não distinguem os neandertais dos humanos modernos”, disse Adam Van Arsdale, professor de antropologia na Wellesley College, à AFP.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

O que é a Matrix?


O que é a Matrix? Essa é a pergunta feita por Neo, mas de tão intrigante que é, o telespectador atento a internaliza como sua e, assim, passa a questionar-se. Morpheus, o grande filósofo da obra cinematográfica, diz em dado momento a Neo que somente ele pode descobrir, de fato, o que é a Matrix. Do mesmo modo, que somente cada um de nós pode descobrir essa verdade.



“Infelizmente, é impossível dizer o que é a Matrix. Você tem de ver por si mesmo.”



Dessa maneira, a descoberta da realidade é um ato individual, ainda que possa ser influenciado por outrem, e que depende de vontade e coragem. É muito mais fácil permanecer seguindo a rotina, fazendo parte de uma engrenagem, como gostam de falar os positivistas, do que questionar a realidade, a fim de atingir a real consciência sobre o mundo.
A escolha entre a pílula azul e a vermelha é o que determina se você quer saber o que é a Matrix. Se você decidiu pela pílula azul, por favor, não continue. Caso, ainda esteja lendo, escolheu a vermelha. Sábia escolha. Seguem as palavras de Morpheus sobre o que é a Matrix:
“Neo: O que é a Matrix?
Morpheus: Você quer saber o que é a Matrix? Matrix está em toda parte. É o mundo que acredita ser real para que não perceba a verdade.
Neo: Que verdade?
Morpheus: Que você é um escravo, Neo. Como todo mundo, você nasceu em um cativeiro. Nasceu em uma prisão que não pode ver, cheirar ou tocar. Uma prisão para a sua mente.”
A Matrix, portanto, é a construção artificial de uma realidade que se reveste de aparências determinadas pela nossa mente. É uma hiper-realidade, uma espetacularização dada pelos dominantes e que aceitamos como verdadeira. Como prisão “tradicional”, haveria repulsa e todos combateriam tal prisão. No entanto, quando se criam gaiolas enfeitadas e cheias de distrações, passamos a não perceber (ou não querer perceber) que, embora existam “atrativos”, ainda estamos em uma prisão. E como toda prisão, há controle, coerção e cerceamento de liberdade.
Todos os elementos que formam a Matrix não passam de manipulações sígnicas feita por aqueles que detêm o monopólio das relações de força, para usar um termo de Foucault, e que nós aceitamos como verdadeiras. Assim, internalizamos as coisas a partir de seu valor simbólico, o que leva, por consequência, a um mundo de simulacros.
Embora, o simulacro seja uma versão simulada da realidade, a sua construção se dá de uma forma tão cuidadosa que a ilusão passa a substituir o real no imaginário das pessoas. Estas ficam condicionadas de tal maneira que se recusam a aceitar que aquele mundo é apenas uma ilusão. Morpheus chega a alertar Neo para isso, afirmando-lhe que alguns indivíduos estão tão habituados àquela realidade que defenderão o sistema.
“Você precisa entender, a maioria das pessoas não está preparada para despertar. E muitas delas estão tão inertes, tão desesperadamente dependentes do sistema, que irão lutar para protegê-lo.”
Esse fato demonstra que a força do dominante consiste no nosso consentimento, uma vez que aceitamos uma realidade que nos é passada sem o menor poder de questionamento. Pelo contrário, procuramos aumentar a nossa dependência e alienação ao sistema, o que em uma sociedade de consumo, obviamente, demonstra-se pelo consumismo.
Há de se considerar que o problema não é o consumo, mas sim, o valor simbólico que é dado às mercadorias, criando a hiper-realidade da Matrix. Essas ideias são do filósofo francês Jean Baudrillard, mas também podem ser percebidas em Marx, na relação de fetichismo da mercadoria, em que as pessoas passam a atribuir às mercadorias um valor quase divino, consumindo-as pela sua transcendência, isto é, pela capacidade que certas mercadorias têm de elevar o indivíduo perante os outros.
O que não percebemos (ou não queremos perceber), mais uma vez, é que a Matrix, a nossa sociedade consumista, cria um exército de servos voluntários, que aceita os grilhões impostos pelos dominantes através da publicidade, como se fossem soluções mágicas de felicidade. Tomando suas pílulas azuis todos os dias, os indivíduos distanciam-se de si mesmos e, por conseguinte, do autoconhecimento, tão necessário à liberdade, já que a conquista desta é individual e se o indivíduo não busca autoconhecer-se a fim de pensar de forma crítica o mundo que o circunda, torna-se impossível enxergar a Matrix e ser um sujeito livre.
A decisão entre sair ou permanecer na caverna é difícil desde Platão. Entretanto, a coragem é o que separa as almas livres dos meros autômatos que nos tornamos. A coragem é que faz um homem decidir tomar a pílula vermelha e livrar-se das amarras que tornam o mundo mais “bonito”. A coragem é que faz o homem manter-se erguido percebendo a decadência da humanidade fora da hiper-realidade. A coragem é o que permite que alguns homens lutem pela liberdade daqueles que se acham livres por poderem escolher entre o Bob’s e o McDonald’s. A coragem é o que falta para aqueles que insistem em continuar em dobrar a colher e não percebem que são eles que se dobram, pois como disse Goethe:
“Não existe pior escravo do que aquele que falsamente acredita estar livre.”

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Sobre escolhas que não queremos e caminhos que não sonhamos

Ser adulto é muito complicado. Temos que trabalhar, estudar. Temos responsabilidades. Temos que ser “alguém”. E quando estamos nessa fase, é quase geral aquela crise de identidade; passamos a nos relacionar com o tempo de maneira totalmente diferente, uma vez que sabemos que estamos pouco a pouco deixando de existir e que inexoravelmente morreremos.
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O desespero muitas vezes começa a fazer parte do cotidiano. Questionamos a vida e nos perguntamos se chegamos aonde sonhávamos, se somos felizes com nossas escolhas. Questionamos a nós mesmos, se o que fazemos reflete o que somos ou se nos deixamos levar pela maré, pelo efeito manada. Ainda que seja difícil prever as conseqüências das nossas escolhas, é necessário que tenhamos coragem para tomá-las e não seguir à risca o que a sociedade determina que devemos fazer.
Qualquer escolha que fizermos nos trará dificuldades. Sempre haverá o imprevisível, o incontrolável, estes são amálgamas indissolúveis da vida. Então, não adianta querer ser advogado ou médico pela vontade dos pais, ou simplesmente porque há segurança sendo um “doutor”. Como também, viver sem medo de arriscar não renderá necessariamente uma vida feliz.
Em cada oportunidade que temos é preciso deixar a nossa marca, ser o que somos, pois a vida é breve e não comporta reprises. As opções mais “seguras” lhe levarão a caminhos que nada tem a ver com você. Caminhos, em que não consegue enxergar os seus passos. Caminhos vazios e tristes; depressões distantes das montanhas. E aí, eu pergunto: as opções “seguras” deixaram de trazer dificuldades?
Qualquer escolha que se faz traz dificuldades, como já disse, mas quando essa escolha é feita por nós, quando nos enxergamos naquilo que fazemos, nos sentimos vivos e mais fortes para superar as dificuldades que são inerentes a qualquer escolha que fazemos.
Entretanto, tenho percebido que temos nos acovardado diante dos outros e cada vez mais estamos seguindo o rebanho. Concomitante a isso, sonhos são deixados para trás e indivíduos apenas sobrevivem, sem ânimo no que fazem.
Ser feliz é mais do que passar os dias fazendo planilhas no Excel, mesmo que isso “renda” bem. Viver uma vida clichê, com adoçante e café descafeinado não é a receita do sucesso, simplesmente porque esta não existe. Cada pessoa carrega uma história dentro de si, sonhos, vontades e sim, tem o direito de realizá-los.
Se adequar a uma sociedade doente não é o melhor caminho, pois além de ser apenas mais um entre tantos iguais, preocupados com formação técnica e uma vidinha burocrática que lhe “renda” um belo salário, serão indivíduos vazios, sem memórias que permitam lhes definir, cheios de hiatos existenciais, como um forasteiro que não sabe de onde veio ou quem é.
Quando fazemos escolhas por pressão social ou por medo de nos arriscar, nunca conseguiremos nos permitir abrilhantar o mundo com o nosso melhor; seremos estrelas sem brilho que não iluminam o céu. Isto é, estaremos lá, mas não seremos percebidos. Seremos marionetes de um espetáculo que se move por caminhos ocultos ao nosso coração.
Presos numa relação nebulosa com o tempo não conseguimos nos encontrar. E, talvez, nem precise, pois seremos apenas pele morta de sentimentos que um dia pulsaram por águas diferentes. Tão diferentes que lhe disseram para remar em sentido contrário. E você foi. Não é um vitorioso nem um derrotado. É viajante de um lugar desconhecido que outrora disseram para ir. Sente-se triste e tem vontade de voltar, mas não lembra-se dos antigos caminhos que queria seguir. Então, continua. Sem ânimo, alma ou vontade. Não é um vitorioso nem um derrotado. Uma vez que:
“Aquilo que não é consequência de uma escolha não pode ser considerado nem mérito nem fracasso.”
Erick Moraes

sábado, 3 de fevereiro de 2018

Casa arrumada é assim

Um lugar organizado, limpo, com espaço livre para circulação e uma boa entrada de luz.

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Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um cenário de novela.

Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os móveis, afofando as almofadas…
Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo:
Aqui tem vida…
Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras e os enfeites
brincam de trocar de lugar.Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições fartas, que chamam todo o mundo para mesa da cozinha.Sofá sem mancha?Tapete sem fio puxado?Mesa sem marca de copo?Tá na cara que é casa sem festa.E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.
Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.
Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda fio para atar passaporte e vela de aniversário, tudo junto…
Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vindo.
A que está sempre pronta pros amigos, filhos…
Netos, vizinhos…
E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca ou namora a qualquer hora do dia.
Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente.
Arrume a sua casa todos os dias…
Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela…
E reconhecer nela o seu lugar.