sábado, 22 de julho de 2017

CULTURA

Lembrando Alberto Carneiro

O artista Alberto Carneiro, que morreu aos 79 anos,"15 de Abril de 2017" foi um dos nomes que mais “abriram novos caminhos para a prática artística em Portugal”, na segunda metade do século XX, depois de ter começado como santeiro.



Alberto Carneiro nasceu a 20 de Setembro de 1937, em São Mamede do Coronado, concelho da Trofa, distrito do Porto, local ao qual se manteve ligado durante toda a vida e onde iniciou a aprendizagem como escultor com um santeiro, num ofício que desenvolveu até ter ido trabalhar por conta própria, aos 17 anos de idade.

O portal Artistas Unidos escreve que, em 2003, “no Museu de Arte Contemporânea do Funchal mostra 20 obras - Alberto Carneiro. Exposição Antológica 1968-2003 - e na Porta 33, Funchal, cria 3 novas obras - Os caminhos da água e do corpo sobre a terra - e expõe desenhos e pinturas sobre papel. Para o catálogo destas exposições Alexandre Melo escreveu “O viandante esclarecido”. Realiza a escultura Art as tree/Tree as art, árvore, terra, relva, pedras e palavras, na cidade de Taoyuan, Ilha Formosa (Taiwan).
Antes, em 2002, “expõe 30 desenhos, 1965-66, e 3 esculturas, 1991-2001 na Casa da Cultura da Calheta, Madeira”.

A instalação 'Um campo depois da colheita', de Alberto Carneiro, uma das mais importantes do escultor, exposta pela última vez há 26 anos, regressa hoje à Culturgest Porto, onde vai ficar até 01 de Outubro.
A inauguração está marcada para as 17:00 de hoje,22/07/2017 e a obra fica patente ao público a partir de domingo.

segunda-feira, 17 de julho de 2017

 Hoje recordo

 Eugénio de Andrade

Em Eugénio de Andrade (n. 1923), a poesia dos elementos é também poderosa, mas quase sempre reportada ao amor - da natureza, dos seres e do corpo. Muito sensual e literária, plástica e musical, a sua poesia concebe-se como reelaboração da palavra até um limite de despojamento que parte do mundo (agudamente percebido) para reencontrar nele o ser eleito e, em última análise, a solidão como reduto essencial. «As palavras interditas» (1951), poema de culto para várias gerações:
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Os navios existem, e existe o teu rosto
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino flutuam nas cidades,
partem no vento, regressam nos rios.

As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.
Eugénio tem a faculdade de articular o circunstancial com o absoluto, de perceber num ambiente concreto a voz de comunicação que o levará à inscrição poética, à transfiguração modelar, numa expressão límpida e pura muito própria.

sábado, 8 de julho de 2017

Fernando Lopes-Graça - Acordai

Celebrações dos 111 anos de Fernando Lopes-Graça

Uma conferência por Manuel Deniz Silva e Pedro Rodrigues, na Casa Verdades de Faria-Museu da Música Portuguesa (MMP), no Monte Estoril, abriu esta sexta-feira as celebrações dos 111 anos do nascimento de Fernando Lopes-Graça, em Cascais.



                
Fernando Lopes-Graça foi um dos maiores maestros e compositores portugueses do século XX. Foi preso político no Aljube e
em Caxias, dirigente do Movimento de Unidade Democrática (MUD) e membro do PCP.


As diferentes iniciativas contam com a participação, entre outros, do compositor Sérgio Azevedo, que foi amigo de Lopes-Graça, dos pianistas António Rosado e Nuno Vieira de Almeida, do musicólogo Mário Vieira de Carvalho e do Moscow Piano Quartet.
No dia 13 de Julho, realiza-se um recital pelo pianista António Rosado, comentado pelo compositor Sérgio Azevedo, nas Casas do Gandarinha-Centro Cultural de Cascais, do qual fazem parte obras de Debussy e a Suite n.º 5 «in memoriam Béla Bartók», de Lopes-Graça.
A programação inclui, no Centro Cultural de Cascais, um concerto pelo Coro Lopes-Graça da Academia de Amadores de Música, sob a direcção do maestro José Robert, com o pianista Fausto Neves, no dia 26 de Outubro; uma conferência-recital de apresentação do projecto discográfico Fernando Lopes-Graça: Songs and Folksongs, com o pianista Nuno Vieira de Almeida, a soprano Susana Gaspar, a meio-soprano Cátia Moreso e o tenor Fernando Guimarães, no dia 26 de Outubro; e o simpósio «Fernando Lopes-Graça em retrospectiva», nos dias 15 e 16 de Dezembro.
As celebrações encerram no dia 17 de Dezembro, com um concerto pelo Moscow Piano Quartet, em que será estreada uma peça de Sérgio de Azevedo e a obra distinguida com o Prémio Internacional de Composição Fernando Lopes-Graça/2017, que será entregue ao vencedor.

Créditos


quinta-feira, 6 de julho de 2017

Hoje recordo:

Escultura aos poetas
Da autoria de José Rodrigues, um nome incontornável da história da arte portuguesa, falecido em 2016.
Artista plástico que integrava o famoso grupo d`os Quatro Vintes, foi fundador da Bienal de Vila Nova de Cerveira.
Esta escultura de sua autoria está localizada junto ao Teatro Gil Vicente na cidade de Barcelos, reposição feita do anterior largo dos poetas. Foto

domingo, 2 de julho de 2017

EM TERRA DE EGOS QUEM VÊ O OUTRO É REI

Saramago já dizia: “É dessa massa que nós somos feitos, metade de indiferença e metade de ruindade”. Embora, seja dura a observação do português, devemos considerar que, de fato, temos vivido de modo a fazer jus ao pensamento dele. A cegueira, que nos dominou nesta quadra da história, nos transformou em tiranos de nós mesmos, como se houvéssemos perdido a capacidade de perceber o que nos circunda, o mundo, os outros, e, muitas vezes, até nossa individualidade verdadeiramente.
Fomos dominados pela ditadura do ego, a qual não permite a conjugação dos verbos no plural. Sendo assim, existe apenas o eu, e, ainda, de forma superficial, uma vez que para que possamos compreender as nossas tormentas é preciso perceber que no mar bravo existem outros barcos além do nosso. Não há, dessa forma, a percepção da humanidade que nos forma, isto é, a nós e aos outros, de modo que o outro se torna indigno da nossa visão, tornando-se invisível diante da nossa cegueira egoísta.


Dessa maneira, não conseguimos perceber/enxergar que, assim como nós, o outro também chora, sofre, sente a dureza da vida, precisa de um afago, de alguém que o escute e se esforce para compreendê-lo. Ou seja, que o outro também precisa de alguém que seja capaz de desvestir-se do próprio ego para mostrar a sua nudez, a sua fraqueza e, por conseguinte, demonstre que ainda há ouvidos dispostos a escutar e olhos lacrimejados incessantes por mais lágrimas.
Ao adequar-nos a uma sociedade sustentada no individualismo e no egoísmo, passamos a estar doentes, a nos tornar estranhos perambulando em labirintos. Passamos a cegar e, acima de tudo, passamos a tornar a vida um lugar ainda mais inóspito, um lugar mais duro, mais seco, no qual não se brota amor, já que para que este nasça é imprescindível a presença da divindade que só existe no pequeno espaço colocado entre duas almas que procuram incessantemente a conexão através do toque das palavras.
Calamos as palavras na medida em que escolhemos não enxergar o interlocutor. Palavras ditas para sombras só conhecem o eco melodicamente fugaz de palavras não ditas. Tornamos a alma muda, amedrontada e carente de ouvir, de ter atrito, de ter mais cores vindas de outros potes.
Estamos perdidos em um sonho ridículo. Perdidos em vidas vazias e solitárias. Perdidos dentro dos muros que construímos. Perdidos em nossas depressões, em nossas frustrações, em nossas ansiedades. Perdidos na solidão, embaixo do chuveiro enquanto a água cai estilhaçando o nosso corpo. Enquanto procuramos nos livrar por meio das lágrimas do imenso vazio egoísta que nos enfraquece. Enquanto procuramos nos livrar das dores silenciosas e do martírio oculto da nossa ruindade.
A vida sempre será dolorosa e a terra dura, mas não podemos viver escravizados por nossos egos, nos achando sempre autossuficientes, sentados em cima do próprio umbigo. Viver é muito mais do que isso, é poder ter a riqueza de construir pontes que ligam pessoas e tecer palavras poéticas que comunicam almas. É ter fome de amar, de abraçar, de ouvir. É reconhecer a fome no outro mesmo quando a barriga está cheia. É ir além da massa de ruindade e egoísmo que ruge forte em nós.
É nunca cegar ou nunca permitir que essa cegueira se instale e retire o que há de mais belo no mundo: o olhar profundo entre duas pessoas sintetizando a essência do que é divino, pois lembrando outra vez Saramago – “Se podes olhar, ver. Se podes ver, repara” – porque cabe a cada um de nós a responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam e como disse certo poeta meu camarada: “Em terra de egos quem vê o outro é rei”.