segunda-feira, 17 de julho de 2017

 Hoje recordo

 Eugénio de Andrade

Em Eugénio de Andrade (n. 1923), a poesia dos elementos é também poderosa, mas quase sempre reportada ao amor - da natureza, dos seres e do corpo. Muito sensual e literária, plástica e musical, a sua poesia concebe-se como reelaboração da palavra até um limite de despojamento que parte do mundo (agudamente percebido) para reencontrar nele o ser eleito e, em última análise, a solidão como reduto essencial. «As palavras interditas» (1951), poema de culto para várias gerações:
Resultado de imagem para eugenio de andrade desenho

Os navios existem, e existe o teu rosto
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino flutuam nas cidades,
partem no vento, regressam nos rios.

As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.
Eugénio tem a faculdade de articular o circunstancial com o absoluto, de perceber num ambiente concreto a voz de comunicação que o levará à inscrição poética, à transfiguração modelar, numa expressão límpida e pura muito própria.

Sem comentários:

Enviar um comentário