“Quem acolhe um benefício com gratidão, paga a primeira prestação da sua dívida.”- Sêneca“
Os homens apressam-se mais a retribuir um dano do que um benefício, porque a gratidão é um peso e a vingança, um prazer. – Tácito
Dizem que quem ajuda deve ter uma memória curta, mas quem recebe deve se assegurar de ter uma memória longa. Isso se aplica bem na teoria, mas sabemos que na prática o fusionamento é outro. Antes de prosseguir seria bom a gente fazer um auto-exame de consciência e apontar o dedo para nós mesmo, para não parecer um sujo falando do mal lavado. Somos pessoas gratas?
Há sim pessoas evoluídas que ajudam sem esperar retorno de gratidão. Certeza que a compensação, para esses seres, está no próprio ato de ajudar, que promove nelas um sentimento de bem estar, seja naqueles que fazem dessas atitudes uma missão, seja naqueles que são apenas “gente boa”, o tio legalzão do bairro. Nessas pessoas, o ato de se doar, já é uma característica em si mesmas e o reconhecimento é apenas um mimo, um afago na alma.
Claro que o fato da pessoa se doar sem esperar reconhecimento não isenta o ajudado de fazê-lo. Reconhecer, jamais esquecer e ser sempre grato é a parte que nos cabe nessa troca quando somos beneficiados por uma mão amiga. Mas, quem guarda no coração o calor dessa mão amiga? uma boa parte de nós não preserva esse calor, que só vai ser lembrado e sentido quando voltar a precisar se aquecer com ele.
Ser grato é uma atitude tão nobre (ou mais) quanto ser generoso e altruísta. E, pode crer, que é mais difícil mostrar gratidão que mostrar altruísmo. O altruísmo te coloca numa posição mais confortável; a gratidão requer humildade, exige que se reconheça que, em algum momento, nós fomos a parte dependente do outro. Mas, o certo é que todos nós somos dependentes uns dos outros, embora alguns achem que não.
A gratidão não é apenas um sentimento, é também uma habilidade e uma maneira de ver o mundo
Durante muito tempo pensou-se que a gratidão era apenas um sentimento que sentimos quando estamos sujeitos a ações benéficas de outros. Se alguém nos dá uma mão quando mais precisamos dela, nos dá um presente ou dedica parte de seu tempo, um sentimento de gratidão deve ser ativado automaticamente.
No entanto, a gratidão não é apenas uma emoção, ela também tem um componente cognitivo. Para que nos sintamos gratos, devemos primeiro ser capazes de apreciar. Apreciar o gesto que tiveram para nós, apreciar seus efeitos positivos e apreciar o esforço ou a intenção do outro. E a apreciação é uma habilidade que pessoas ingratas não desenvolveram.
Na verdade, psicólogos da Hope College, em Michigan, acreditam que pessoas ingratas simplesmente não têm a capacidade de se sentir gratas. Afirmam que a gratidão ” é uma experiência de abundância, com a consciência de que se é o destinatário de um bom presente do doador “, o que implica apreciar o próprio ato. Eles também explicam que “ gratidão é sobre doadores, presentes, destinatários e atitudes de doadores e receptores uns com os outros. É uma emoção profundamente social ”.
Tudo isso indica que a ingratidão é passível de ser administrada nos primeiros anos de vida. Se os pais não ensinarem seus filhos a valorizar e apreciar o que os outros fizeram por eles, é provável que as crianças eventualmente desenvolvam o que é conhecido como Síndrome do Imperador. Como resultado, elas arrastarão essa visão egocêntrica do mundo para a idade adulta e assumirão que os outros estão destinados a satisfazer suas necessidades e desejos. Esse modo de entender o mundo impedirá que experimentem gratidão.
Os homens apressam-se mais a retribuir um dano do que um benefício, porque a gratidão é um peso e a vingança, um prazer. – Tácito
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