quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

As crianças precisam de arte e histórias, poemas e música, tanto quanto precisam de amor, comida e ar fresco.

 As crianças precisam de arte, histórias, poemas e música, tanto quanto precisam de amor, comida, ar fresco e de brincar. Se não der comida a uma criança, o dano fica rapidamente visível. Se não permitir que uma criança tenha ar fresco e que brinque, o dano também é visível, mas não de forma tão rápida. Se não der amor a uma criança, o dano pode não ser visível por alguns anos, mas será permanente.


Mas se não der a uma criança arte e histórias, poemas e música, o dano não será tão fácil de ver. No entanto, está lá. Os seus corpos são suficientemente saudáveis; eles conseguirão correr, pular e nadar e comer com fome e fazer muito barulho, como as crianças sempre fizeram, mas faltará algo.

É verdade que algumas pessoas crescem sem nenhum contato com arte de qualquer tipo e são perfeitamente felizes, e vivem vidas boas e valiosas; pessoas em cujas casas não há livros, e elas não se importam muito com pinturas, e elas não conseguem ver o interesse da música. Bem, não há mal. Eu conheço pessoas assim. São bons vizinhos e cidadãos úteis.

Mas outras pessoas, em algum momento da sua infância ou juventude, ou até mesmo da velhice, deparam-se com uma coisa que nunca sonharam antes. É tão estranho para eles como o lado escuro da lua. Mas um dia eles ouvem uma voz no rádio lendo um poema, ou passam por uma casa com uma janela aberta onde alguém toca piano ou vêem um cartaz de uma pintura na parede de alguém e isso dá-lhes um golpe tão forte e ao mesmo tempo tão gentil que eles ficam tontos. Nada os preparou para isso. De repente percebem que estão cheios de fome, embora eles não tivessem ideia disso até há um minuto atrás; uma fome de algo tão doce e tão delicioso que quase parte o seu coração. Eles quase que choram, eles sentem-se tristes, felizes e solitários e acolhido por essa experiência completamente nova e estranha, e eles estão desesperados por ouvir mais perto do rádio, eles ficam fora da janela, eles não conseguem tirar os olhos do cartaz. Eles queriam isso, eles precisavam disso como uma pessoa a morrer de fome precisa de comida, e eles nunca o souberam. Eles não tinham ideia.

É isso que acontece a uma criança que precisa de música, pinturas ou poesia, ao se deparar com essas coisas por acaso. Não fosse esse acaso, talvez o encontro jamais ocorresse, e ela passaria a vida inteira num estado de fome cultural da qual nem teria ideia.

Os efeitos da fome cultural não são dramáticos e rápidos. Não são tão facilmente visíveis.

E, como eu disse, algumas pessoas, pessoas boas, amigos simpáticos e cidadãos úteis, nunca chegam a viver essa experiência. Estão perfeitamente bem sem isso. Se todos os livros e toda a música e todas as pinturas do mundo desaparecessem da noite para o dia, elas não sentiriam falta; elas nem notariam.

Mas essa fome existe em muitas crianças, e muitas vezes nunca é satisfeita porque nunca foi despertada. Muitas crianças, em todos os cantos do mundo, estão a passar fome pela falta de algo que alimenta e nutre as suas almas de uma maneira que nada mais no mundo poderia.

Dizemos, corretamente, que todas as crianças têm direito à alimentação e ao abrigo, à educação, ao tratamento médico, e assim por diante. Mas devemos entender que todas as crianças têm direito à experiência da cultura. Temos de entender verdadeiramente que sem histórias, poemas, pinturas e música, as crianças também passarão fome.

Texto escrito por Philip Pullman (Versão original) para o décimo aniversário do Prémio Memorial Astrid Lindgren em 2012.



quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Não se lamente por envelhecer, é um privilégio negado a muitos!

 “Envelhecer é um privilégio, uma arte, um presente. Somar cabelos brancos, arrancar folhas no calendário e fazer aniversário deveria ser sempre um motivo de alegria. De alegria pela vida e pelo que estar aqui representa. Todas as nossas mudanças físicas são reflexo da vida, algo do que nos podemos sentir muito orgulhosos.”

Todas as nossas mudanças físicas são reflexo da vida, algo do que nos podemos sentir muito orgulhosos.

Temos que agradecer pela oportunidade de fazer aniversário, pois graças a ele, cada dia podemos compartilhar momentos com aquelas pessoas que mais gostamos, podemos desfrutar dos prazeres da vida, desenhar sorrisos e construir com nossa presença um mundo melhor…

As rugas nos fazem lembrar onde estiveram os sorrisos

As rugas são um sincero e bonito reflexo da idade, contada com os sorrisos dos nossos rostos. Mas quando começam a aparecer, nos fazem perceber quão efêmera e fugaz é a vida.

Como consequência, frequentemente isso nos faz sentir desajustados e incômodos quando, na verdade, deveria ser um motivo de alegria. Como é possível que nos entristeça ter a oportunidade de fazer aniversário?

Porque temos medo de que, ao envelhecermos, percamos capacidades. Porque pensamos na velhice como um castigo, de maneira pejorativa e humilhante. Do mesmo modo, fazer aniversário nos faz olhar para trás e nos expõe ao que fizemos durante nossa vida.

Dizer obrigado por cada ano completo

Deveríamos agradecer à vida pela oportunidade de permanecer e de ter a capacidade e a consciência de desfrutar. Que sentido tem nos lamentarmos e nos queixarmos por termos possibilidades? Não é verdade que daríamos o que fosse para ter aqueles que perdemos do nosso lado? Por que não colocamos vontade na vida e deixamos de dissimular nosso caminhar?

Fazer aniversário deveria ser um motivo de alegria. Cada dia conta com 1440 minutos de novas opções, de maravilhosos pensamentos, de centenas de matizes em nossos sentimentos. Cada segundo nos faz mais capazes de experimentar e de aproveitar todas as opções que surgem ao nosso redor.

Cada ano é uma medalha, uma oportunidade para acumular lembranças, para fazer nossos os instantes, para soprar as velas com força e orgulho. Deseje continuar cumprindo sonhos, segundos, minutos, horas, dias, meses e anos… E, sobretudo, poder celebrá-los com a vida e com as pessoas que o rodeiam.

QUANTOS ANOS TENHO?

Tenho a idade em que as coisas se olham com mais calma, mas com o interesse de seguir crescendo.

Tenho os anos em que os sonhos começam a se acariciar com os dedos e as ilusões se tornam esperança.

Tenho os anos em que o amor, às vezes, é uma louca labareda, ansiosa para se consumir no fogo de uma paixão desejada. E outras, é um remanso de paz, como o entardecer na praia.

Quantos anos tenho? Não preciso de um número marcar, pois meus desejos alcançados, as lágrimas que pelo caminho derramei ao ver minhas ilusões quebradas…
Valem muito mais do que isso.

O que importa se fizer vinte, quarenta, ou sessenta!
O que importa é a idade que sinto.

Tenho os anos que preciso para viver livre e sem medos.
Para seguir sem temor pelo atalho, pois levo comigo a experiência adquirida e a força de meus desejos.

Quantos anos tenho? Isso a quem importa!
Tenho os anos necessários para perder o medo e fazer o que quero e sinto.

– José Saramago –

Entre a infância e a velhice há um instante chamado vida

Não se lamente por envelhecer. A vida é um presente que nem todos temos o privilégio de desfrutar. É um frasco de suspiros, de tropeços, de aprendizagens, de prazeres e de sofrimentos. Por isso, em si mesma, é maravilhosa.

E também por isso é imprescindível aproveitar cada momento, fazê-lo nosso, nos sentirmos afortunados. Acumular juventude é uma arte que consiste em fazer com que seja mais importante a vida dos anos do que os anos de vida.

Não é tão importante se somamos cabelos brancos, rugas ou se nosso corpo nos pede trégua a cada manhã. O que verdadeiramente é relevante é crescer, porque no final das contas, fazer aniversário é inevitável, mas envelhecer é opcional.

do site A Mente es Maravilhosa

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Mata Nacional dos Medos...

A Mata Nacional dos Medos é um espaço arborizado localizado na Freguesia da Charneca de Caparica, no concelho de Almada, com aproximadamente 340 hectares de área.


O seu nome deriva da designação dada aos montes de areia, tipicamente formados por acção do vento, junto ao mar ("medos" ou "médões"). De facto, devido à deslocação das areias das dunas existentes a Oeste, o rei D. João V mandou plantar esta mata, no séc. XVIII, para evitar que estas invadissem os terrenos de génese agrícola situados a leste.

Devido a ter sido mandada plantar pelo rei, esta zona era ainda conhecida pela designação Pinhal do Rei. O local foi classificado como reserva natural (botânica) em 1971 (Decreto 444/71, de 23 de Outubro), integrando ainda a Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa de Caparica.


A mata é sobretudo caracterizada pela presença de pinheiro-manso, sendo constituída por comunidades de arbustos característicos de zonas mediterrânicas onde se faz sentir a influência do Atlântico.
Outras espécies de ocorrência significativa incluem o pinheiro-bravo, a aroeira, o carrasco, o medronheiro, o rosmaninho e o tomilho. Ocorrem matagais de sabina-das-praias juntamente com pinheiros, matagais de carrasco, e também zonas de matos constituídos por tojo-chamusco e camarinha. Ocorrem ainda, com uma menos distribuição, a joina-das-areias e o sargaço.



A mata possui 3 espécies de flora que só existem em Portugal e 15 que só existem na Península Ibérica.
Aqui ocorrem e nidificam aves como a águia-de-asa-redonda, o mocho-galego e a coruja-do-mato.
Em termos de mamíferos, ocorre o texugo, o ouriço-cacheiro e a gineta.
Em termos de répteis e anfíbios ocorrem a salamandra-de-pintas-amarelas e a lagartixa-ibérica.

Texto e Fotos - João Carlos Silveira
Evento: Os novos Passadiços da Mata dos Medos



terça-feira, 19 de outubro de 2021

ALMADA - Quinta de Almaraz

 A Quinta do Almaraz corresponde a um povoado situado numa falésia com excelentes condições naturais e de defesa, e auferindo de uma excelente visibilidade sobre o estuário do rio Tejo.

As sucessivas campanhas arqueológicas levadas a cabo neste sítio permitiram diferenciar três zonas ocupacionais, a primeira das quais foi identificada na sua plataforma mais elevada, e corresponderia ao povoado Calcolítico e da Idade do Bronze. A segunda zona revelou-se a mais extensa das três - rodeada por duas linhas de muralhas, com um fosso sob a primeira delas -, e foi atribuída à ocupação da Iª Idade do Ferro, enquanto que a terceira, localizada na zona mais a oeste desta falésia, relacionar-se-ia com o período ocupacional da 2ª Idade do Ferro.


Em termos genéricos, as estruturas descobertas teriam correspondido a alojamentos de planta rectangular de pequenas dimensões, edificadas com pedra seca, cujos habitantes se dedicariam preferencialmente à agricultura, à qual se somava a pastorícia e alguma prática piscatória. Base de subsistência esta que, no fundo, parecia não divergir substancialmente da economia que caracterizava todos os registos anteriores, atribuíveis ao Bronze Final.
É possível que parte do pescado obtido se destinasse à exportação, sugerindo-se a prática da "salga de peixe", a par da própria exploração do sal, também ele provável objecto de exportação, absolutamente natural numa altura em que este produto desempenhava um papel assaz crucial na alimentação, ao mesmo tempo que se observava uma real dificuldade em obtê-lo nas quantidades exigidas pela existência quotidiana do mundo mediterrânico de então.

Por outro lado, alguns dos elementos recolhidos parecem indicar que a exploração das areias auríferas do rio Tejo constituíria uma das outras possíveis actividades exercidas por algumas das populações que ocuparam sucessivamente este local ao longo dos séculos. Além disso, é possível inferir a prática da metalurgia através da análise das escórias existentes, reforçada pela presença de cadinhos de fundição.
Mas, de todo o espólio posto a descoberto nesta estação arqueológica, é, sem dúvida, o material cerâmico aquele que merece maior atenção por parte dos investigadores, e não apenas pela sua enorme quantidade. Assim, se, em termos percentuais, a mais representada é a denominada "cerâmica comum", é toda uma série de recipientes integradas no conjunto das chamadas "cerâmicas cinzentas", aquela que perfaz o grupo específico mais numeroso, apresentando formas tão díspares, como taças, potes carenados e urnas, perfazendo as ânforas e as próprias pithoi, um grupo à parte.
De entre o universo do material cerâmico, dever-se-ão destacar, no entanto, os elementos representativos das denominadas "cerâmicas de verniz vermelho", o que nos faz supor que, subjacente à escolha da colina em que o povoado se encontra implantado, residiria um propósito económico muito específico, directamente relacionado com a actividade comercial marítima especialmente ligada ao "Mundo Fenício". Não se trata, no entanto, de um estabelecimento fenício, mas de um entreposto comercial que, à semelhança de outros identificados a Sul do Tejo e na região sadina, se desenvolveu em grande parte devido, precisamente, às trocas comerciais mantidas com o Mediterrâneo Oriental.                        O Mar da Palha visto da Quinta do Almaraz

(créditos- João Carlos Silveira)

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Inverno ou verão!

E eis que chegaram o frio e a chuva. Deve ser apenas por alguns dias... mas mesmo assim serve para eu dar uso ao teclado, aos dedos e a uma pequena parte do cérebro com mais um tema que não deve interessar a ninguém!




O que é melhor, Verão ou Inverno?
Analisemos cada um. Do meu ponto de vista, claro! Não está aqui mais ninguém por isso tem mesmo que ser.
Verão. Quente, Sol, praia, mar/rio, corpos escaldantes, cervejas geladas... perto do paraíso, não? Há quem diga que gostaria de ter Verão todo o ano. Mas e conseguiriam viver assim todo o ano? Não esquecer o trabalhinho. Com tanto calor conseguem trabalhar bem? Não estão todo o dia a pensar na praia? Pois é. Isto funciona bem para aquelas pessoas que não precisam mexer uma palha para ganhar o seu... para os outros de nós há que trabalhar. Vergar a mola! Daí que o Verão é bom mas só por algum tempo.
Inverno. Frio, chuva, vento. Escuro... Até chega a assustar não? E o quentinho duma lareira? E o ar fresco pelos pulmões adentro? E a chuva a cair na pele, a arrepiar... Sentir a Natureza a manifestar-se, a mostrar o seu poder! A sua fúria...
E o trabalho? Não perguntam vocês mas pergunto eu. O trabalho faz-se ainda melhor. "Este gaijo a dizer que gosta de trabalhar?! Bebeu!" Não. No Inverno o melhor que se pode fazer para aquecer é trabalhar. Ok, quase o melhor hehehe (maroto eu)
Assim, respondendo rápido à questão inicial: ambos os dois. Claro!
Não esquecendo ainda a Primavera e o Outono, tão caídos em desuso nos últimos tempos...
E para se aproveitar alguma coisa deste post, deixo uma frase que vi por aí algures na net, de um autor desconhecido: "everything will be okay in the end. if it's not okay, it's not the end"
Gosto
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quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Há um juiz chamado tempo que coloca tudo em seu lugar.

 Todos nós somos livres para praticar as nossas ações, mas somos responsáveis pelas consequências . Um gesto, uma palavra ou uma má ação causam sempre um impacto mais ou menos percetível e, embora não acreditemos, o tempo é um juiz muito sábio. Apesar de não dar uma sentença imediata, sempre vai dar razão a quem a tem.




O famoso psicólogo e pesquisador Howard Gardner , por exemplo , surpreendeu-nos recentemente com um de seus raciocínios: “uma pessoa má nunca se torna um bom profissional” . Para o “pai das múltiplas inteligências”, alguém guiado exclusivamente pelo interesse próprio nunca alcança a excelência, e essa é uma realidade que também se revela muitas vezes no espelho do tempo.

O tempo funciona no sistema de ação e reação, ou seja, tudo que se promove hoje, terá consequências um dia, seja coisas boas ou ruins. O tempo julga e sentencia, portanto uma atitude desprezível que se pratica hoje, pode retornar como algo muito ruim no futuro. Talvez, quando chegar a conta, a pessoa sequer consiga fazer ligação e entender que o que está acontecendo seja a consequência de uma ação sua praticada tempos atrás.

Nós convidamos você a refletir sobre isso:

Tempo, o sábio juiz

Vamos dar um exemplo: vamos visualizar um pai educando seus filhos com severidade e ausência de afeto . Sabemos que esse estilo de paternidade e educação trará consequências, porém, o pior de tudo, é que esse pai busca com essas ações oferecer ao mundo pessoas fortes e com certo estilo de comportamento. No entanto, o que você provavelmente vai conseguir é algo muito diferente do que você pretendia: infelicidade, medo e baixa auto-estima.

Com o tempo, essas crianças se transformam em adultos, ditarão a sentença: fugir ou evitar esse pai, algo que talvez, essa pessoa não consiga entender. A razão para isto é que muitas vezes a pessoa que prejudica “não se sente responsável por suas ações”, carece de uma proximidade emocional adequada e prefere usar a culpa (meus filhos são ingratos, meus filhos não me amam).

Uma maneira básica e essencial para levar em conta que qualquer ato, por menor que seja, tenha consequências, é fazer uso do que é conhecido como “responsabilidade plena”. Ser responsável não significa apenas assumir a responsabilidade por nossas ações, é entender que temos ter jeito no trato com os demais, que a maturidade humana começa por nos tornar responsáveis por cada uma de nossas palavras, ações ou pensamentos que geramos para promover nosso bem-estar e dos demais.

Responsabilidade, um ato de coragem

Entendam que, por exemplo, a solidão do agora pode ser a resposta do tempo de uma ação passada, e é sem dúvida um bom passo para descobrir, que estamos todos unidos por um fio fino onde um movimento negativo ou disruptivo, traz como consequência a um nó ou a rutura desse fio. A partir desse vínculo.

Certifique-se de que suas ações falam mais que suas palavras, que sua responsabilidade é o reflexo de uma alma; Para isso, tente sempre ter bons pensamentos. Então, tenha certeza de que o tempo vai te tratar como você merece

É necessário ter em mente que somos “donos” de grande parte de nossas circunstâncias vitais, e que uma maneira de promover nosso bem-estar e aqueles que nos rodeiam é através da responsabilidade pessoal: um ato de coragem que o convidamos a colocar em prática através destes princípios simples.

Chaves para se tornar consciente da nossa responsabilidade

O primeiro passo para tomar consciência da “responsabilidade plena” é abandonar nossas ilhas de recolhimento, nas quais focalizamos muito do que acontece no exterior com base em nossas necessidades. Portanto, esta série de construções também é adequada para crianças.

• O que você pensa, o que você expressa, o que você faz, o que cala. Toda a nossa pessoa gera um tipo de linguagem e um impacto sobre os outros, a ponto de criar uma emotividade positiva ou negativa. Devemos ser capazes de intuir e, acima de tudo, ter empatia com quem temos diante de nós.

• Antecipe as consequências de suas ações: seja seu próprio juiz. Com esta chave não estamos nos referindo a cair em uma espécie de “autocontrole” pelo qual nos tornaremos nossos próprios executores antes de termos dito ou feito qualquer coisa. Trata-se apenas de tentar antecipar o impacto que uma determinada ação pode ter sobre os outros e, consequentemente, sobre nós mesmos também.

• Ser responsável implica entender que não somos “livres”. A pessoa que não vê limite em suas ações, seus desejos e necessidades, pratica aquela devassidão que, mais cedo ou mais tarde, também tem consequências. A frase recorrente “minha liberdade termina onde começa a sua” adquire aqui o seu significado. No entanto, também é interessante tentar promover a liberdade e o crescimento de outros, a fim de alimentar um círculo de enriquecimento mútuo.

(Do site a Mente é Maravilhosa) 


quarta-feira, 14 de julho de 2021

Normopatia: o desejo anormal de ser como os outros

 Em cada pessoa existem duas forças antagónicas: uma força que promove a individuação e outra força que promove a socialização. Todos queremos nos reafirmar como indivíduos únicos e autênticos, mas ao mesmo tempo sentimos a necessidade de pertencer a um grupo e receber um certo grau de validação e aceitação social.





No entanto, existem pessoas nas quais a força da socialização prevalece. A necessidade de aprovação social pode se tornar tão forte que eles desenvolvem o que o psicanalista Christopher Bollas chamou de normopatia.

O que é normopatia?

Normopatia é “o impulso anormal em direção a uma suposta normalidade”, segundo Bollas. É, portanto, uma normalidade patológica. Essas pessoas não praticam a introspecção, não desenvolvem autoconhecimento ou têm curiosidade sobre sua vida interior, mas se esforçam para buscar validação social.

O normopata sofre de um tipo particular de ansiedade: eles têm medo de olhar para si mesmos e examinar seus conteúdos psicológicos. Em vez de explorar suas preocupações, desejos e motivações, você se concentra tanto em se integrar à sociedade e se ajustar às normas que praticamente se torna uma obsessão que acaba afetando seu bem-estar.

Como reconhecer um normopata?

A pessoa com tendência à normopatia anseia – mais do que qualquer coisa no mundo – por aprovação e validação social, mesmo que seja à custa de sua individualidade e autenticidade. Na verdade, ele tem medo da individualidade. Ele fica aterrorizado discordar e ser diferente.

É por isso que ele está sempre tentando se encaixar e ser como todo mundo. O normopata pode perguntar a um amigo o que ele pensa sobre uma nova música, vestido ou penteado antes de formar uma opinião. Basicamente, você olha para os outros para ouvir o que pensar ou acreditar.

Sua dependência de validação externa é tão grande que ele acaba desenvolvendo um “falso eu”. Essa falsa identidade é voltada para o exterior, treinada para responder às demandas externas e silenciar seus próprios impulsos e desejos.

Essa busca pela normalidade torna-se anormal, fazendo com que a pessoa perca o contato consigo mesma. O normopata perdeu a conexão vital com seus sentimentos e estados internos, que geralmente se manifestam por meio de uma linguagem mais pobre. É difícil para o normopata colocar as experiências do self em palavras porque eles perderam a conexão com seu eu mais profundo.

Bollas descobriu que essas pessoas não conseguem fazer as conexões entre seus sentimentos, ideação e experiência, mas, em vez disso, passam imediatamente ao comportamento. É como se eles tivessem um tipo de pensamento operacional que rapidamente transforma a ideia em ação.

Na prática, a pessoa normopata não fica “aberta” por tempo suficiente para que uma visão introspectiva surja. ” O processo de explorar o mundo interior e usar o pensamento reflexivo para desvendar o inconsciente e o conflito é claramente lento demais ” , disse Bollas.

Como resultado, ele exibe hiper-racionalidade ao lidar com os outros. No entanto, sem a sensibilidade e a empatia necessárias, ele falha em se conectar com as pessoas em um nível mais profundo, de modo que seus relacionamentos costumam ser superficiais. Eles são as pessoas típicas que tentam agradar e são gentis, mas com quem não podemos nos conectar.

Em certos casos, quando a normopatia atinge níveis extremos, o psicanalista Thomas H. Ogden referiu-se a uma verdadeira “morte psicológica”, já que existem partes inteiras do psiquismo onde afetos e significados deixam de ser elaborados. Na verdade, a maioria dos normopatas sente um grande vazio por dentro. E quanto mais vazio experimentam por dentro, mais se voltam para fora.

É por isso que não é surpreendente que os normopatas funcionem melhor quando há um protocolo rígido a ser seguido. São pessoas que aceitam praticamente tudo o que sua cultura aponta como bom, correto ou verdadeiro. Eles geralmente não questionam essas crenças, idéias ou valores. Eles têm medo de discordar. Eles simplesmente se deixam levar por assumir uma atitude passiva, permitindo que a massa guie sua vida.

O caminho que leva à normopatia

O cidadão ideal que muitas sociedades anseiam é o normopata, aquela pessoa que se adapta às regras e regulamentos que seguem a multidão sem questionar nada. Na verdade, muitas vezes presumimos – erroneamente – que a opinião dominante não pode estar errada. Assumimos que o normal é correto e positivo. Essa presunção nos leva a pensar que o que todos fazem é politicamente aceitável e desejável. Nesse ponto, as opiniões e reações da maioria começam a definir a norma e a exercer uma pressão mais ou menos sutil sobre aqueles que se desviam da norma.

Isso significa que todos nós, de uma forma ou de outra, inoculamos o germe da normopatia.

Por isso, o psicólogo Hans-Joachim Maaz afirmou que a normopatia é “ uma realidade socialmente aceita para a negação neurótica coletiva e a defesa contra danos emocionais, que está presente em grande parte da população ”.

No entanto, essa pressão social não é suficiente para desenvolver um comportamento normopático. Em muitos casos, esse desejo de se encaixar a todo custo está relacionado a experiências traumáticas. A psicóloga Barbara Mattsson, por exemplo, descobriu que as pessoas que passaram por uma guerra têm uma tendência maior à normopatia. Essas pessoas particularmente se esforçam para ser “comuns”, pois anseiam por um certo grau de normalidade em suas vidas, o que lhes dá uma sensação de segurança.

A normopatia também foi associada a experiências traumáticas que geraram grande vergonha. Ser rejeitado ou menosprezado pode gerar uma vergonha enorme, uma experiência que pode deixar uma ferida tão profunda que leva a pessoa a se desconectar de seu “eu”.

Na verdade, a psicóloga Joyce McDougall pensa que o “falso eu” que os normopatas constroem é o resultado da necessidade de sobreviver no mundo dos outros, mas sem ter conhecimento suficiente dos laços emocionais, sinais e símbolos que fazem o relações humanas significativas e em desenvolvimento.

No entanto, essa condição patológica não é apenas o resultado de pressões e opressões sociais ou de certas experiências pessoais traumáticas, mas é sustentada por um profundo medo de olhar para dentro.

Essas pessoas costumam sentir grande ansiedade porque não entendem seus anseios e desejos mais profundos, especialmente quando foram censuradas socialmente. Eles têm medo de olhar para dentro de si mesmos porque não sabem o que vão encontrar nesse processo de introspecção e não sabem como lidar com essas supostas sombras.

Por isso é difícil para eles refletir sobre os fatos, parar e pensar. Eles navegam pela vida com poucas ferramentas, geralmente emprestadas de outras pessoas, para que não se percam ou tenham que lidar com riscos ou surpresas inesperadas.

A tecnologia certamente não ajuda. Passar muito tempo na frente das telas nos priva do tempo e do espaço íntimos necessários para a autocontemplação, durante a qual nosso cérebro pode fazer conexões mais amplas entre eventos e nossas reações emocionais.

Um “eu forte”, o antídoto para a normopatia

Na normopatia, o social é exaltado e o indivíduo é ignorado. Mas o normopata nem sempre segue as regras ou se comporta como um robô programado para seguir os outros. Na verdade, a normopatia extrema é marcada por rupturas com a norma.

Algumas pessoas com normopatas acabam explodindo sob a pressão da conformidade que lhes rouba o oxigênio psicológico. Nesses casos, é provável que eles reajam com violência, se voltando contra os modelos ou grupos que você seguiu, especialmente se você se sentir rejeitado ou desapontado com eles.

A saída para a normopatia nada mais é do que desenvolver um “ eu forte ” e aceitar as sombras que nos habitam. É se abrir para o nosso eu, explorá-lo e reconstruí-lo. Com uma atitude curiosa e compassiva.

Para fazer isso, precisamos nos livrar da ideia de que normal é adequado, correto ou desejável. Devemos entender que às vezes a normalidade – entendida como a norma e o normalizado, o regulador e a maioria – às vezes pode causar muitos danos. Precisamos resgatar a importância da discordância, refletir sobre o nosso meio e validar nossa diferença.

Mas, acima de tudo, devemos parar de acreditar que estamos protegidos da normopatia, porque, como disse McDougall, todas as pessoas normais, pelo menos até certo ponto, “ movem-se no mundo como autômatos, agem como robôs programados, se expressam em uma linguagem achatados e sem nuances, eles têm opiniões banais e usam clichês e chavões.

“ Eles tendem a obedecer humildemente a um sistema imutável de regras de conduta sem relação com quem eles são e perdem o contato consigo mesmos enquanto reduzem a distância entre eles e os outros a zero. São pessoas superadaptadas ao mundo real, muito adaptadas à vida, que vão perdendo a vontade de explorar, entender e saber, e aos poucos vão limitando seu pensamento a um funcionamento ‘operativo’ e deixando de usá-lo para saber o que está acontecendo dentro de si ou no mundo oculto dos outros ”.

Do site Rincón de la Psicología



segunda-feira, 5 de julho de 2021

A ‘solitária’ de 102 anos que começou a pintar aos 85

 



Agora com 102 anos, Smith disse que foi uma mistura de solidão e liberdade recém-descoberta que lhe deu a coragem de começar a perseguir sua paixão após a morte de seu marido.

“Tudo o que eu queria fazer era pintar”, disse ela.

“Eu nunca fiz muito antes disso porque ele [marido] era muito crítico”.

“Levei um tempo, mas de repente percebi que é adorável estar livre de tudo”.

“Você pode dizer o que quiser, pode fazer o que quiser e pode pensar o que quiser.”



Na Luz

Alguns dos trabalhos mais recentes de Smith, que variam de arte abstrata colorida a peças de paisagem, serão exibidos em uma exposição em seu centro comunitário local para idosos em Eaton, no sudoeste da Austrália Ocidental.

Ela disse que organizar a exposição foi muito trabalhoso, mas não está ansiosa pela atenção.

“Não estou muito feliz em conhecer pessoas e falar sobre minhas próprias coisas”, disse Smith.

Todas as suas pinturas são orgânicas, com muito pouco planejamento envolvido.

“Eu sei que alguns artistas têm muito medo de uma tela em branco”, disse ela.

“Quando vejo uma tela em branco, simplesmente adoro, e posso sentar e olhar para ela, e a imagem vem da tela.”


Abraçando sua erva interior

Trudy Smith sempre quis ser pintora, mas não era a vida que seu pai, médico, incentivava.

“Eu estava meio que desajustada”, disse ela.

Ela se via como a erva que crescia no meio de sua família, uma posição que encorajou outras ovelhas negras.

“Seja uma erva daninha – pois só assim você poderá pertencer a qualquer parte ou lugar e fazer o que quiser, quando quiser, sem temer a reprovação de ninguém”, disse ela.


Diga sim à vida
A sra. Smith passa a maior parte do tempo pintando em seu estúdio nos fundos de sua casa.

Muitas vezes perguntam-lhe como ela se mantém em forma e saudável na idade dela, mas ela disse que realmente não tem segredo.

Em vez disso, o conselho dela é tentar qualquer coisa, como pintar nos seus últimos anos.

“Às vezes, na vida, você acha que deveria fazer algo, mudar, casar e ter outro filho”, disse ela.

“Sempre quando eu tenho esse sentimento de ‘vou?’ A resposta é sim. ‘”

(Fonte: abc.net.au)