A Quinta do Almaraz corresponde a um povoado situado numa falésia com excelentes condições naturais e de defesa, e auferindo de uma excelente visibilidade sobre o estuário do rio Tejo.
As sucessivas campanhas arqueológicas levadas a cabo neste sítio permitiram diferenciar três zonas ocupacionais, a primeira das quais foi identificada na sua plataforma mais elevada, e corresponderia ao povoado Calcolítico e da Idade do Bronze. A segunda zona revelou-se a mais extensa das três - rodeada por duas linhas de muralhas, com um fosso sob a primeira delas -, e foi atribuída à ocupação da Iª Idade do Ferro, enquanto que a terceira, localizada na zona mais a oeste desta falésia, relacionar-se-ia com o período ocupacional da 2ª Idade do Ferro.Em termos genéricos, as estruturas descobertas teriam correspondido a alojamentos de planta rectangular de pequenas dimensões, edificadas com pedra seca, cujos habitantes se dedicariam preferencialmente à agricultura, à qual se somava a pastorícia e alguma prática piscatória. Base de subsistência esta que, no fundo, parecia não divergir substancialmente da economia que caracterizava todos os registos anteriores, atribuíveis ao Bronze Final.
É possível que parte do pescado obtido se destinasse à exportação, sugerindo-se a prática da "salga de peixe", a par da própria exploração do sal, também ele provável objecto de exportação, absolutamente natural numa altura em que este produto desempenhava um papel assaz crucial na alimentação, ao mesmo tempo que se observava uma real dificuldade em obtê-lo nas quantidades exigidas pela existência quotidiana do mundo mediterrânico de então.
Por outro lado, alguns dos elementos recolhidos parecem indicar que a exploração das areias auríferas do rio Tejo constituíria uma das outras possíveis actividades exercidas por algumas das populações que ocuparam sucessivamente este local ao longo dos séculos. Além disso, é possível inferir a prática da metalurgia através da análise das escórias existentes, reforçada pela presença de cadinhos de fundição.
Mas, de todo o espólio posto a descoberto nesta estação arqueológica, é, sem dúvida, o material cerâmico aquele que merece maior atenção por parte dos investigadores, e não apenas pela sua enorme quantidade. Assim, se, em termos percentuais, a mais representada é a denominada "cerâmica comum", é toda uma série de recipientes integradas no conjunto das chamadas "cerâmicas cinzentas", aquela que perfaz o grupo específico mais numeroso, apresentando formas tão díspares, como taças, potes carenados e urnas, perfazendo as ânforas e as próprias pithoi, um grupo à parte.
De entre o universo do material cerâmico, dever-se-ão destacar, no entanto, os elementos representativos das denominadas "cerâmicas de verniz vermelho", o que nos faz supor que, subjacente à escolha da colina em que o povoado se encontra implantado, residiria um propósito económico muito específico, directamente relacionado com a actividade comercial marítima especialmente ligada ao "Mundo Fenício". Não se trata, no entanto, de um estabelecimento fenício, mas de um entreposto comercial que, à semelhança de outros identificados a Sul do Tejo e na região sadina, se desenvolveu em grande parte devido, precisamente, às trocas comerciais mantidas com o Mediterrâneo Oriental.
O Mar da Palha visto da Quinta do Almaraz
(créditos- João Carlos Silveira)
(créditos- João Carlos Silveira)
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