sábado, 13 de outubro de 2018


Arquivo Histórico de Almada

Associação de Classe dos Operários Corticeiros de Almada

História administrativa/biográfica/familiar


As origens desta organização remontam a 1891, ano em que alguns operários se reuniram em Cacilhas com o intuito de discutirem a ideia de constituição de uma associação de classe dos corticeiros no concelho de Almada. Participaram nesse encontro os seguintes operários: Manuel Augusto de Oliveira, Luís Madrugo, Mateus Ferreira, Manuel Fevereiro, Nicolau das Neves e José Agostinho.


Os corticeiros em frente da cadeia d'Almada a fim de impedir que os presos fossem conduzidos para Lisboa.
Imagem: Hemeroteca Digital, Illustração Portugueza, 4 de setembro 1911...foto Almada Virtual

A instituição de uma associação de classe dos corticeiros em Almada visava combater a exploração do trabalho, nomeadamente a abolição dos serões e laboração aos domingos, a reivindicação do aumento salarial e a contestação ao governo na questão corticeira relativa à exportação da cortiça em bruto.

Em 1891 foi constituída a secção da Mutela, na Cova da Piedade, da Associação de Classe dos Operários da Industria Corticeira, com sede em Lisboa, instalada no Poço do Bispo. Neste mesmo ano, a 9 de outubro, a secção da Mutela, dependente da Associação de Lisboa, inicia o seu processo de autonomia reivindicando a constituição dos seus estatutos.

A primeira sede da secção da Mutela ficava na Rua Direita da Mutela, Cova da Piedade. Em 1892 a sede foi transferida para outras instalações, com melhores condições, na Rua de Oliveira, n.º 11, em Cacilhas. Esta mudança da sede para Cacilhas motivou que a sua designação passasse também a ser conhecida por Associação de Corticeiros de Cacilhas. Em 1906 passou para a Travessa do Açougue, na vila de Almada, e em 1908 voltou para a Rua Direita da Mutela, na Cova da Piedade.

A aprovação oficial dos estatutos da Associação foi alcançada pelo Alvará de 24 de agosto de 1898, publicado no Diário do Governo, n.º 239, de 22 de outubro de 1900.

A organização interna da associação estava regulada no Decreto de 9 de maio de 1891. Os seus corpos gerentes, eleitos anualmente, eram constituídos pela Direção (um presidente, um secretário, um tesoureiro e dois vogais), pela Assembleia Geral (os sócios e dirigida por uma mesa composta por um presidente e dois secretários) e pelo Conselho Fiscal (um presidente, um secretário e um relator).
Os principais fins da associação consistiam em estudar e defender os interesses económicos comuns aos associados; criar escolas e bibliotecas para os associados; obter recursos especiais de entidades públicas e privadas para a realização dos fins da associação.
Associação com forte componente social, política e cultural, apoiou financeiramente os seus associados em tempo de greves e publicou o jornal Corticeiro (1899-1900), primeiro órgão de informação dos operários corticeiros em Portugal. Foi extinta em finais de 1933, na sequência do Decreto-Lei n.º 23050, de 23 de setembro de 1933, diploma que criou novos sindicatos nacionais.

História custodial e arquivística


Com a extinção da associação, na sequência do Decreto-Lei n.º 23050, de 23 de setembro de 1933, os seus bens e provavelmente a documentação do seu arquivo, ficaram à guarda da Administração do Concelho, presume-se que aí permaneceram até à extinção do cargo de Administrador do Concelho (c. 1940), altura em que possivelmente foi transferido para o arquivo municipal.

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Instrumentos de pesquisa


Inventário; guia.

Notas


As fontes de informação utilizadas, para a elaboração da história administrativa foram:

- FLORES, Alexandre - Almada na história da indústria corticeira e do movimento operário (1860-1930). Almada: Câmara Municipal, 2003.
- FLORES, Alexandre - O corticeiro: o primeiro órgão dos operários corticeiros em Portugal (1899-1900). Almada: Câmara Municipal, 2000.
- Documentos relativos à aprovação dos Estatutos [Em linha]. Arquivo Histórico na Área Económico-Social. 


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